quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ônibus é usado para transporte de drogas


Ítalo Lima/Enviado a Tauá

Depois de várias denúncias que chegaram à redação do Jornal O Estado sobre o tráfico de drogas na região dos Inhamuns, principalmente no município de Tauá, a 360 quilômetros de Fortaleza, a reportagem foi enviada à cidade para ouvir moradores e autoridades sobre a problemática. Segundo informações, chefes do tráfico encaminham bandidos a São Paulo, em um ônibus clandestino, para trazerem drogas que serão comercializadas na região. O caos na delegacia, no Presídio Público de Tauá e o abuso de poder da Companhia de Policiamento Rodoviário (CPRv) local, também fizeram parte dos relatos da população.
Segundo informações da empresária Helena (nome fictício), que viaja com frequência a São Paulo, “conviver com tráfico de drogas no interior é algo comum e que há muito tempo deixou de ser surpresa para os moradores de Tauá”. Helena explica que utiliza um ônibus clandestino que existe na cidade para conseguir vender suas mercadorias em São Paulo. “É a forma que encontramos para rever os parentes, fazer compras e levar mercadorias daqui para vender lá. A passagem é bem mais barata e conseguimos levar muitas mercadorias,” destacou.
O ônibus sai de Tauá, passa no município de Mombaça e em seguida, viaja para São Paulo percorrendo estradas de terra, fugindo das barreiras policiais. Foi através desses caminhos que os traficantes encontraram para comprar drogas e distribuir no interior do Estado. Daniela (nome fictício) é ex-namorada de um usuário de drogas e que já viajou para São Paulo utilizando o ônibus. “O esquema aqui é organizado, apenas um dos garotos viaja no ônibus, ele já conhece todo o pessoal naquelas favelas, é só comprar e trazer.” Para voltar, o ônibus realiza o mesmo percurso trazendo passageiros que moram na região dos Inhamuns, entre eles o traficante.O Estado procurou a Delegacia Regional de Tauá e de acordo com o inspetor Enilson Pontes, existem graves problemas na delegacia e o principal deles é o efetivo policial para investigar esses crimes. Hoje a delegacia está superlotada, mantém um escrivão, dois inspetores e o delegado. “É quase impossível cobrir seis cidades e atender mais de 100 mil habitantes”, afirmou. Questionado sobre o esquema de distribuição de drogas nas cidades dos Inhamuns, o inspetor enfatizou: “já recebemos denúncias aqui na própria delegacia sobre esse ônibus clandestino, mas com esse efetivo não temos condição de investigar, isso também é um trabalho da CPRv.”
Segundo informações dos policiais, mesmo com o pequeno efetivo conseguiram prender Antônio Denis Calixto Sá, 33, e com ele foi apreendida uma pequena quantidade de crack. Em Quiterianópoles (a 410 quilômetros de Fortaleza), duas mulheres foram presas acusadas de tráfico de drogas. “Esses são pequenos casos, apenas ‘aviões’, nada comparado aos grandes, que mandam os traficantes para São Paulo e recebem a droga aqui”.
Outro grave problema em Tauá é a cidade de Parambu, a 494 quilômetros da capital. “É de lá que vêm as principais ocorrências, como homicídios, quadrilhas que assaltam ônibus e já houve boatos até de uma lista de pessoas marcadas para morrer” afirmou o inspetor Willian Teles. Segundo ele, enquanto estava no DP recebeu uma ligação de Parambu informando que mataram o irmão de um preso que está na Delegacia de Tauá. Um motociclista que veio de Parambu realizar um Boletim de Ocorrência (BO) na delegacia brincou, “meu amigo lá é assim, eles matam um e deixam o outro amarrado para o outro dia”.

Denúncias contra a CPRV
O mesmo motociclista que veio de Parambu, denunciou multas abusivas cometidas por policiais da CPRv, nas estradas estaduais. “Temos que dar dinheiro, carneiro e implorar para eles não multarem. Após a implantação da CPRv deixamos de trazer nossos produtos da fazenda para vender na cidade,”disse Nathanael Melo.
O Estado foi ao Centro da cidade de Tauá e constatou a revolta da população por causa dos abusos cometidos pelos policiais da CPRv. “Tive que vender minha moto, a multa foi tão grande que era quase o valor dela”, lamentou o agricultou José Antônio. Moradores denunciam que alguns fazendeiros da região trabalham com transporte de areia e que seus funcionários não são habilitados. “Os ricos não pagam e nós temos que andar escondidos nas estradas de terra; já caí, a moto quebrou e quase não venho à cidade” relatou Pedro (nome fictício).
» CPRv se defende. Segundo informações do Comandante da CPRv, Werisleik Pontes, essas denúncias da população de Tauá e região sempre existiram e grande parte delas são apenas especulações. “Policiais já foram na rádio e disseram à população que denunciassem ao Ministério Público, como isso não acontece, é sinal que a população não tem interesse”.
Para o comandante, essas denúncias surgem para atrapalhar o trabalho da CPRv, já que motoqueiros, motoristas e donos de topic que realizam linhas entre Tauá, Novo Oriente, Parambú e Mombaça, andam clandestinamente nas estradas.“Se não existir lei nas estradas, a população faz a festa.”
Questionado sobre o tráfico de drogas na região, através de ônibus clandestino e as multas abusivas da CPRv, o comandante se defende. “A população nunca denunciou aos policiais da CPRv esse ônibus. Já as multas e os possíveis subornos não vou dizer que não existam, mas observe: o motociclista não tem habilitação, anda em moto cheia de irregularidades, inclusive sem placa. No final, a multa é acima de R$ 1.000 mil,” relatou.

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